Bosi, Alfredo – “Colônia, culto e cultura”, Dialética
da Colonização, 2ª edição, Companhia das Letras, São Paulo / SP, p 11-63,
1992.
Por Sidney dos Santos
É um texto que nos trás aspectos da formação
da sociedade brasileira. Trata das influências e dos conceitos recebidos.
Analisando nossa formação cultural, as influências que o povo brasileiro sofreu
e que afetaram o processo cultural e a nossa formação histórica. Tudo isso
procurando analisar também o colonizador, ou seja, procurando entender os
objetivos e suas ideias. Pois o colonizador tinha o objetivo do povoamento,
exploração do solo. Através da colonização ocorre o desenvolvimento, econômico,
político, pois a conquistas de novas terras existe a possibilidade de
conquistas de riquezas, ocorre o desenvolvimento do meio de produção,
conquistas que geram títulos de nobreza, trazendo as relações de poder.
Através do texto podemos identificar as
varias formas de colonização, e a demonstração de poder do colonizador, podemos
também observar o nosso processo de cultura a imposição cultural que houve, e
identificar as questões do simbolismo, passados de gerações em geração.
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“Não por acaso, sempre que se quer classificar
os tipos de colonização, distinguem-se dois processos: o que se atem ao simples
povoamento,
e o que conduz à exploração do solo. Colo está em ambos: eu moro; eu cultivo”. (p
11-12)
·
“Como se fossem verdadeiros universais das
sociedades humanas, a produção dos meios de vida e as relações de poder, a
esfera econômica e a esfera política, reproduzem-se e potenciam-se toda vez que
se põe em marcha um ciclo de colonização”. (p 12)
·
“O traço grosso da dominação é inerente às
diversas formas de colonizar e, quase sempre, as sobre determina. Tomar conta de
sentido básico de colo importa não só em cuidar, mas também em mandar”. (p 12)
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“E a necessidade de uma saída para o
comércio, durante o árduo Ascenso da burguesia, entrou como fator dinâmico do
expansionismo português no século XV”. (p13)
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“A colonização é um projeto totalizante cujas
forças motrizes poderão sempre buscar-se no nível do colo: ocupar um novo chão,
explorar os seus bens, submeter os seus naturais”. (p15)
·
“Cultura é o conjunto das práticas, das
técnicas, dos símbolos e dos valores que se devem transmitir às novas gerações
para garantir a reprodução de um estado de coexistência social”. (p16)
·
“Cultura supõe uma consciência grupai operosa
e operante que I desentranha da vida presente os planos para o futuro”. (p16)
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“Aculturar um povo se traduziria, afinal, em
sujeitá-lo ou, no melhor dos casos, adaptá-lo tecnologica-mente a um certo
padrão tido como superior”. (p17)
O
texto eles nos remete a compreender os objetivos do colonizador, econômico,
religioso, o progresso que eles queriam adquirir, até pelo fato de naquele
momento o pré-capitalismo se iniciar, Portugal passava por crise e precisava se
expandir. Demonstra o poder autoritário do colonizador e as atitudes mais
banais praticadas, como o escravismo, os constrangimentos praticados contra os
índios e os negros, além do trabalho escravo algo que retrocede ao capitalismo,
e que é criticado por Marx.
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“Não se pode negar o caráter constante de
coação e dependência estrita a que foram submetidos índios, negros e mestiços
nas várias formas produtivas das Américas portuguesa e espanhola”. (p21)
·
“O genocídio dos astecas e dos incas, obra de
Cortez e de Pizarro, foi apenas o marco inaugural”. (p21)
·
: "A produção de capitalistas e
trabalhadores assalariados é, portanto, um produto fundamental do processo pelo
qual o capital se transforma em valores". (p23)
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“O colono incorpora, literalmente, os bens
materiais e culturais do negro e do índio, pois lhe interessa e lhe da sumo
gosto tomar para si a força do braço, o corpo de suas mulhere”. (p29)
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“O combate de morte entre o bandeirante de
São Paulo e o jesuíta, com a derrota final deste em meados do século XVIII, diz
eloquentemente de uma oposição virtual que explode quando a prática
paternalista dos missionários e a crua exploração dos colonos já não se ajustam
mutuamente”. (p31)
O
texto demonstra o conflito de interesses político e religioso, mais uma vez é
necessário falar da imposição cultural dos colonizadores, que julgavam a
cultura e o culto, a devoção dos negros e dos índios como abomináveis.
A
influência do europeu, que é carregada até os tempos de hoje, onde um povo que
mal sabe falar o português conseguia responder ao mestre de reza em latim. Uma
mistura de cultura possível através da oralidade, à mistura de cultura que a
partir dai surge à mestiçagem.
O
novo através do seu poder impõe a sua cultura, o antigo ou ele se adapta ao
sistema, mesmo que mantenha traços tradicionais ou então irá sofrer. Entretanto
onde existir uma cultura enraizada, sempre irá existir uma cultura tradicional,
voltada para o culto, onde vai envolver as questões simbólicas, mantendo assim
de certa forma a consciência de sua identidade. Porém a adaptação ao sistema às
vezes é necessária.
O
texto trás a questão da generosidade da cultura popular, que sempre está aberta
as múltiplas influências e sugestões. Trás a questão da intolerância dos
Jesuítas para com a cultura do índio e do negro, pois demonizaram as práticas
religiosas. Cita a rigidez e as práticas arcaicas dos colonizadores.
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“O poder eclesiástico entra em litígio
frequente com os interesses e a jurisdição civil”. (p33)
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“O sonho de D. Manuel deve ser prenúncio de
bom sucesso, pois faz parte da econômia ideológica da epopéia”. (p39)
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“Já parece ritual dos navegantes falar em
“aparelhar a alma para a morte”. (p39)
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“Em um espaço de raças cruzadas e populações
de diversas origens a sua linguagem acabou ficando mestiça, a tal ponto que beirava
o anacronismo falar de uma cultura negra ou de uma cultura indígena ou mesmo de
cultura rústica em estado puro. (p46)
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“O capelão começou a entoar nesse instante o
hina á virgem, em latim (“Salve Regina, Mater Misericordia”...), e, o que
estranhei, foi seguido de pronto sem qualquer hesitação pelos presentes. Depois
veio o espantoso para mim: A reza, também entoada, de toda a extensa ladainha
de nossa senhora igualmente em latim”. (p49)
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“Quando saí a capela perguntei ao mestre de
reza quem lhe ensinara o ofício. Respondeu-me que seu pai, tamb´´em capelão nos
sítios de Sorocaba e Açariguama.” (p50)
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“O que pensar dessa fusão de latim litúrgico
medieval posto em prosódia e em música de viola caipira, e da sua resistência à
ação per-tinaz da Igreja Católica que, desde o Vaticano II, decretou o uso
exclusivo do vernáculo como idioma próprio para toda sorte de celebração”?
(p50)
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“A sugestão teórica dada por Oswaldo Elias
Xidieh, um dos mais argutos estudiosos do nosso folclore, é esta: onde há povo,
quer dizer, onde há vida popular razoavelmente articulada e estável (Simone
Weil diria enraizada), haverá sempre uma cultura tradicional, tanto material
quanto simbólica, com um mínimo de espontaneidade, coerência e sentimento, se
não consciência, da sua identidade”. (p51)
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“Não há dúvida de que, nos traumas sociais e
nas migrações forçadas, os sujeitos da cultura popular sofrem abalos materiais
e espirituais graves, só conseguindo sobrenadar quando se agarram à tábua de
salvação de certas engrenagens econômicas dominantes”. (p51)
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“É notório o fato de que os primeiros
jesuítas demonizaram, de plano, as práticas religiosas tupis fazendo exceção ao
nome Tupã arbitrariamente assimilado ao Deus bíblico. Com os ritos africanos a
atitude de recusa foi ainda mais radical”. (p61)
·
“A rigidez ortodoxa selada pelo Concilio de
Trento abominava as danças e os cantos afro-brasileiros”. (p62)
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“A colonização retarda, também no mundo dos
símbolos, a democratização”. (p62)
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